terça-feira, 17 de junho de 2008

centro

Um começo de tarde assim: vendo-estranhando o mundo, nervos à flor da pele, uma atmosfera quase palpável do tempo que encosta na gente e flui só bem devagar. Assim que cheguei no centro, sem saber bem o que fui fazer, vi a muralha robocop dos soldados de César. Então é isso, meu Deus ? me fez vir até aqui prá ver a guerra ? E já me doía o coração, e mal segurei umas lagriminhas antecipadas.

Caminhando me reconciliei, achei que as intenções eram outras: ai, que bom, então era prá vir até o Paço olhar essas maravilhas. E sempre que assisto arte acho que aprendo muito mais de tudo do que por qualquer outra forma. Vontade de ficar lá o resto da tarde e nem voltar para o curso das coisas, ficar na arte o resto da vida, que a verdade penso é que é ali que está a vida, nada mais.

E a sala da fase negra do Serpa me fez as pernas bambinhas, e a vontade de chorar mas ao mesmo tempo de rir quando pensei: sou louca, mas vou chamar o guarda dizendo “acode aqui, que de repente a gravidade aumentou e eu me arrasto, se duvidar chega a hora de fechar e eu não consegui alcançar a saída, fico presa até a morte, logo nesta sala tão triste e sofrida, não quero, esquece o parágrafo anterior ! “

E depois o ateliê do José Camargo – tô na dúvida se é José mesmo. Amei aquilo! Vontade de aprender, mexer com mármores e formas. Olhei a cadeira dele atrás da mesa: ô, seu Camargo, é muito lindo o que você faz, eu ía gostar, será que você me ensina ?

E no fim o Mourão e as grades, ai, não gostei muito, como gostar da prisão?

E parece que era tudo encaixado, tudo já amarrado, porque foi sair dali, olhar uns camelôs meio engatilhados prá fuga e na outra esquina um susto, dou de cara com a gang robocop. Fiquei branca no ato, de novo as perninhas bambinhas, e eu no lugar de um camelô, tinha feito o quê ? Que nem a galinha do Cidade de Deus, corre que vai morrer de qualquer jeito.

É, sim, uma prisão, não ter emprego e ter que comer e ter que ser camelô e ter que fugir dos robocops do César que nem galinha antes de virar canja. Não é muito melhor estar no Paço vendo arte ?

E eu me pergunto como é que faço prá viver e comer, não sou camelô nem galinha, e como é que vendo arte ? É uma guerra.
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