quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ressaca

e depois daquela noite tão curta, tão maldormida, acordou de ressaca sabendo que tinha que levantar - era sábado, sete e meia da manhã, as ruas desertas e a cabeça latejando não ajudava. Sabia que tinha que ir, não lembrava muito bem pra onde, Botafogo,sim, é isso, e o ônibus acelerado quase não pára - claro, seus reflexos estão lentos, mas sabe que é movida pelo compromisso assumido. Desce do coletivo sem certeza do ponto, só sabe que procura um casarão antigo em uma rua transversal... e percebe o mesmo rapaz que antes travessou na frente do ônibus, agora caminhando em sua direção. Olha para os lados e o comércio ainda está fechado, que ideia, por que é que tinha que ser hoje! Começa a andar mais rápido e o medo já lhe encurta a respiração, a cabeça pesa, lembra que tem pouco dinheiro na bolsa, mas nem por isso será presa fácil, entra na primeira rua sem saber que era sem saída. Sem saída, mesmo, o cara está quase em cima quando ela se resolve pelo enfrentamento:
- Mas o que é que há? São 8 da manhã, eu não dormi e não tem um puto na minha carteira. Nem celular eu trouxe, vai querer o quê?
Ele se assusta e, quase pedindo desculpas diz, numa sem-gracice infinita:
- É que o seu vestido está preso na calcinha, a sua... sua perna está aparecendo, eu só queria avisar...
Quis morrer, quis sumir. Não fez nada disso, rapidamente se ajeitou e foi se desculpando:
- Ah, é que eu tô meio tonta...
Mas foi aí que se lembrou:
- É isso, é que há doze horas eu não como nada, tenho que fazer um maldito exame. Você sabe onde é que fica o laboratório ?
- Colesterol ?
Claro, ele sabia tudo.


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