domingo, 18 de abril de 2010

trecho da peça "Vida é o quê?"

Rikardo Ãhn... Não é tão simples assim. Tem o aspecto profissional, certo, mas tem o lado econômico. Ninguém vive sem dinheiro.

Maurineide Dinheiro. Ninguém não vive sem dinheiro. E vida é o quê, me diz? É isso? É comprar casa, carro, bicicleta? É ir no shopping comprar mais, é vestido, é bolsa, é sapato? Eu nunca vi tanta coisa na vida. Verdade que aqui tem tudo mais. Só não sei pra quê. Pra quê! Pra quê tanto, se tem só dois pé, pra quê tanto sapato, deus do céu? Nem que fosse centopéia, precisava era de muitas vida, precisava de viver andando o tempo todo pra gastar aquele monte de sapato. E o tanto de roupa? É saia, é blusa, vestido, calça cumprida, calça curta...

Rikardo Short. Quando a calça é curta chama-se short.

Maurineide Cê é besta, então cê pensa que eu não sei o que é que short?

Rikardo Podia ser bermuda.

Maurineide Então, short, bermuda, biquini...

Rikardo Top...

Maurineide Topo nada. É o quê?

Rikardo Top, é uma parte assim, aqui em cima.

Maurineide Ah, tem top, tem. Tô falando, tem de um tudo. Só não tem pra quê. Só compra, compra, compra, pra fingir que tá fazendo alguma coisa, pra fingir que tá vivendo, fingir que não tá morrendo. Inferno. Um inferno, viver assim. Só louco. Tudo louco!

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sexta-feira, 9 de abril de 2010

deslocado

Janete passando roupa.
Tibério: Janete, eu ando meio preocupado...essas camisas aí...de quem são? Essa camisa não é minha, é?
Janete: Mas, Tibério, você não lembra ? Essa camisa é da tua filha.
Tibério: Meu Deus, Janete...era isso que eu suspeitava...
Janete: Suspeitava? (vira a camisa de um lado e de outro) De uma camisa?
Tibério: Da nossa filha...a...a....
Janete: A Debinha, Tibério?
Tibério: Pois é....A Debinha agora só veste umas roupas assim.
Janete: E o que é que tem ? Agora vai por defeito nas roupas da menina?
Tibério: Não, é que...sei lá, não fica um pouco...? Não fica um pouco esquisito, meio parecendo...?
Janete: É moda, moda é assim.
Tibério: E não confunde, não?
Janete: O quê, as camisas?
Tibério: Não, eles, quero dizer...elas... Você não acha que ela fica um pouco parecendo assim, um ... Janete, não tem uma moda mais de mocinha prá nossa filha usar, não?
Janete: Ai, Tibério, mas você não lembra? Essa camisa foi presente de aniversário, foi você mesmo que deu! E ela só usa prá te agradar... que ela achou horrorosa, completamente fora de moda.
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

cadê?

A chuvarada da segunda-feira me pegou na hora em que estava saindo de casa – e por que não me liguei no sinal? Logo na esquina da pracinha o táxi na curva deu aquela espraiada de água suja e me molhou inteira...
Na descida na Lagoa-Barra já não se via nada, tanto que errei o ponto e andei muito mais, em plena chuva atravessando verdadeiras lagoas – uma barra, mesmo. Haja persistência – ou teimosia, sei lá. Com o tênis e as meias completamente encharcados, provavelmente alguns peixinhos, assisti aula durante 3 horas. O incrível é que houve aulas e foram boas, viva a PUC (ainda bem, porque eu já me preparava pra rodar a baiana!...).
Mas na volta, santo deus. Eram uma 22:30h, tudo parado na praça do Jóquei, carros atravancados não iam nem pra frente nem pra trás, os que podiam davam ré e pegavam uma contramão pra sair dali de qualquer jeito. Alguém saiu do carro gritando e no primeiro momento parecia que tinha perdido o filho: “Cadê o Eduardo? Cadê o f. da p. do Eduardo Paes?” A gente olhava a confusão e ria, mas a desgraça era muita e fui ficando aflita, até que apareceu uma mulher que vinha a pé desde a Lopes Quintas e ia pro Leblon. Peguei uma “carona” a pé com ela, era ao menos uma companhia pro meu medo de andar sozinha naquela hora na chuva – se já é perigoso normalmente, nesses momentos tudo vira terra de ninguém e salve-se quem puder.
Bem, minha acompanhante era uma empregada doméstica muito simpática, pude chegar na Av. Ataulfo de Paiva e pegar um ônibus 157 pela Lagoa. Fiquei na dúvida, será que a Lagoa também...? Mas era o que tinha, não dá muito pra ficar escolhendo. Bendito 157, levai-me pra casa. Entrei e feliz descobri que tinha um coleguinha do curso. Viemos conversando e lembrei que éramos, mesmo, muito felizes, porque imagina só se você está sozinha no seu carro enfrentando a tormenta, com o risco do carro morrer ou sair boiando, de entrar água dentro ou de cair uma árvore em cima? Hein? Ou se você está de táxi e tudo isso também pode acontecer, mas com o agravante do taxímetro rodando, olha o estresse. E se você desiste e sai do táxi, vai pra onde? E se você continua, no fim tem que pagar aquela fortuna, porque nós ficamos hooooras parados na Lagoa. Bem, agradeci a deus por estar dentro de um ônibus que atravessou incólume todos os alagamentos, e mais uma vez com uma ótima companhia.
Mas aí a pressa de chegar em casa foi o canto da sereia que me trouxe a brilhante ideia de descer no posto do Humaitá e tentar um táxi pelo Túnel Rebouças. “Ô, minha senhora, que Rebouças, o quê, o túnel tá fechado, ninguém tá querendo rodar mais não, arrisca perder o carro...”
Bem, corri atrás de outro ônibus, agora era um lindo 584, normalmente raro porque vem pras bandas do Cosme Velho. E nele atravessei Voluntária outros grandes mares, agora em silêncio que também já era quase meia-noite. Mas ao passarmos pela Real Grandeza não resisti, caí na gargalhada sob o olhar assustado do trocador – quem é essa louca? “Olha só o nome da rua, e olha só a verdadeira lambança que está isso: um rio de lama com um monte de porcaria de plástico boiando, puro esgoto e terra.” Botafogo inteiro era botanojo.
Afinal saltei nas Laranjeiras e já saltitante por entre as muralhas de lama caminhei a Glicério na esperança de algum táxi. Claro que nada. Subi os 112 degraus da minha escadaria e mais a subidinha da ladeira, entrei em casa torcendo pra ter luz – aqui sempre falta... – entrei no banho glorioso e à meia-noite e meia me pendurei no varal. Só depois eu soube, teve gente que virou a noite, teve gente que perdeu casa, teve gente que perdeu gente. Que merda. Cadê o Eduardo e todos os outros?
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terça-feira, 6 de abril de 2010

sacrilégio

Na sala da universidade católica, o acaso faz a tela de projeção encobrir parcialmente a imagem, e quando me dou conta, é engraçado de repente ver só uma parte do crucifixo: vejo as perninhas de Jesus e não me contenho, dou risada em plena aula - é como se o sagrado virasse profano em uma fração de segundo, as coxinhas de mármore branco aparecendo por entre as pregas de uma minúscula túnica drapeada ganham um inusitado tom erótico, quase uma Betty Boop de minissaia fazendo charminho com um pé sobre o outro.
( meu deus, depois dessa o Ratzinger me excomunga, sem falta!!! )
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