quinta-feira, 25 de setembro de 2008

amor selvagem

Foi à primeira vista. Caminhavam pelas aléias do jardim; era a parte final da entrevista. O professor explicava qualquer coisa a respeito dos macacos quando seus olhos se encontraram. Ao seu lado, a voz do mestre tornou-se um murmúrio longínquo enquanto ele admirava a cabeça desenhada, as narinas dilatadas. Paralisado, ouvia seu próprio coração em sobressalto. Do outro lado do vidro, ela parecia hipnotizada. E foi quase sofrendo que ele chegou a se perguntar: seria verdade ? naquele belo corpo frio e esguio, caberia mesmo um coração ?
A interrupção do professor, acertando detalhes para o início do trabalho no dia seguinte, soou como promessa de felicidade. Nos 8 meses seguintes, viveram fases dignas de um começo de namoro: diariamente ele a visitava em seu habitat, alimentando-a enquanto alimentava o sonho de tê-la a seu lado para sempre. Ela, voraz, aceitava os presentes, mantendo-se sempre distante, desconfiada.
Os colegas incrédulos debochavam, alertando:
- Nunca vai conseguir, deixa de ser louco. Ela é escorregadia...
- Toma cuidado, é traiçoeira !
Ele dava de ombros, afirmando que ela não tinha veneno algum.
O fato é que dia a dia aquele amor selvagem o devorava, lhe comia as entranhas. Não podia mais. Uma noite afinal decidiu. E nessa madrugada foi visitá-la. Com sua melhor roupa, entrou subrepticiamente no refúgio da sua amada, aproximou-se do cantinho onde ela dormia.
No dia seguinte, foi logo cedo que o encontraram: ela enroladinha nele, abraço de amor, já tinha começado a comer seu braço. Ele não respirava mais.
Disseram que o rapaz queria domesticá-la.

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