segunda-feira, 27 de julho de 2009

hora de evoluir (artigo publicado no JB em 20/07/09)

Enquanto esperamos o sinal abrir, o menino desembrulha o picolé que acabou de comprar. Sem a menor cerimônia, sem ao menos procurar por uma lixeira - que estava do lado, acoplada ao próprio poste do semáforo - joga a embalagem no chão, a meio metro de seus pés. Não é impressionante ? Sim, porque afastar a sujeira de perto é um comportamento instintivo, faz parte da camada mais primitiva da nossa complexa construção como seres humanos. Impressionante, porque seria razoável esperar que os pais, a escola, os meios de comunicação, enfim, nós, a sociedade, tivéssemos conquistado, com esse garoto de uns doze anos, uma elaboração civilizatória um pouquinho mais avançada.
Lembro dos filhotes de beija-flor no jardim: com poucos dias de vida, voltam o traseiro para fora do ninho e fazem suas necessidades lançando-as sobre as plantas em volta, a um palmo de distância. Claro, são animais limpos, não querem conviver com mau cheiro e sujeira. A camada mais primitiva se faz presente. Mas esse resíduo orgânico, em quantidades irrisórias, é rapidamente absorvido pelo ambiente, auxiliando na adubagem do jardim. Já os nossos “restos”... compostos por sobras de alimentos, embalagens, papéis, plásticos, vidros, etc., têm absorção mais difícil ou mesmo impossível, em alguns casos implicando efeitos de contaminação prejudiciais à vida. Isso, fora a parte do lixo que é industrial, hospitalar, agrícola, tecnológica, muitas vezes tóxica, em quantidades absurdamente monumentais: a quantidade de lixo produzida por um ser humano em uma semana é, em média, igual a 5 Kg. Só o Brasil produz 240 mil toneladas de lixo por dia. POR DIA!
Bem, nada disso é novidade, já que a questão ecológica há muito extrapolou os círculos acadêmicos e hoje está entre as prioridades para todos os níveis de governo. No entanto, ainda há adultos que jogam lixo pela janela do ônibus em pleno centro do Rio de Janeiro. Não é impressionante ? Pois com cerca de 100.000 lixeiras espalhadas em pontos estratégicos, 40% das 8.800 toneladas de lixo que a Comlurb recolhe diariamente em toda a cidade, são retirados das ruas.
Impressionante, porque nosso lixo é, de alguma forma, reflexo do que somos - afinal, o que uma pessoa joga fora e como o faz, diz muito sobre quem ela é. Sem dúvida, ainda há muito a fazer para conquistarmos um grau mais alto de civilidade, já que o conceito de bem coletivo, a educação mais elementar a respeito da cidadania e do cuidado com o meio ambiente, ainda não existem de forma disseminada sequer entre nós, os adultos.
Mas se nem todos têm as informações necessárias para reduzir, reaproveitar, reciclar o seu lixo - que é nosso ! - não podemos fazer concessões aos comportamentos primitivos que nos atingem. A esta altura do campeonato, ninguém tem o direito de se negar ao mínimo: jogar o lixo no lixo !

Fontes:
www.ajudabrasil.org e http://comlurb.rio.rj.gov.br