quarta-feira, 8 de outubro de 2008

o maracanã, a rainha da Inglaterra e os paraguaios

A primeira vez que fui ao Maracanã foi uma experiência muito traumática. Jogavam Brasil e Paraguai. Parece que era eliminatória de algum campeonato. Nunca acompanhei muito futebol. Depois desse dia, menos ainda... Só sei que, prá meu azar de estreante, o estádio estava completamente lotado - até a rainha da Inglaterra estava lá. Eu tinha uns 10 anos, fui levada por meu pai e um amigo dele – ambos paraguaios. Como evidentemente não existia uma torcida do Paraguai, sentamos onde foi possível. Muito tempo depois vim a saber que tinha sido recorde de público.
No primeiro tempo, apesar da tensão permanente como intrusos, esmagados por torcedores brasileiros de todos os lados, acompanhei a partida, intrigada com aquele estranho goleiro que corria no meio dos outros jogadores.
- És el juéz, esclarecia meu pai, falando baixinho com medo de ser descoberto. Coitado, imagine torcer pelo seu time sem poder “dar bandeira”. E com aquela cara de índio guarani !
Tudo correu bem até a hora do intervalo, em que precisei ir ao banheiro. Fui com meu pai enquanto o amigo tentava guardar nossos lugares sem emitir um pio. Na volta, o jogo já tinha começado e era impossível - parecia impossível – atravessar aquela muralha brasileira. E meu pai não podia emitir um pio, ou seríamos fatalmente trucidados ! Ele apontou para onde estava o amigo, falando baixinho:
- Allá está.
Moisés talvez tenha se sentido assim ao atravessar o Mar Vermelho, algo como suplicar para que aconteça alguma coisa que a gente não pode nem imaginar o que é. Rezar pelo milagre. No nosso caso, o mar de brasileiros não se abriu: eles me pegaram nos braços, me levantaram.
- Olha a criança, cuidado com a menina...
E depois:
- Olha o velho, vai passando...
A torcida nos passava de mão em mão, deitados, por cima das cabeças:
- Prá lá, passa prá lá.
Meu pai, branco, caladíssimo, só apontava em direção ao amigo, que acenava incrédulo. Desesperada, sem tocar os pés no chão, não pude nem aproveitar aquele momento histórico: nos braços do povo, em pleno Maracanã, a menina levitando fazia muito mais sucesso do que a rainha Elizabeth.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~