terça-feira, 12 de agosto de 2008

O casamento de Monse

Aconteceu quando fui visitar meus parentes em Assunção, Paraguai. Minha prima Monserrat e a amiga Edith, que passaram a tarde se preparando, foram elegantíssimas e cheias de expectativas a uma festa de casamento. Há muito não se fazia uma festa tão sofisticada como aquela. Já no jantar, quando o amigo viu o salmão servido na bandeja de prata, não teve dúvidas: levantou e foi comer um sanduíche árabe numa carrocinha de rua. Logo um outro, querendo brincar com Monse, dá uma puxadinha no seu rabo de cavalo. Qual não foi o susto quando ficou com os cabelos dela na mão ! Depois de um rápido constrangimento, não pôde deixar de rir. Aproveitou e começou a gritar no meio do salão: “la enana usa peluca ! la enana usa peluca ! “. Também não pôde deixar de rodar o trunfo no ar como um laço para novilhos: “la enana usa peluca ! “. Todos dançam, todos bebem até cair. A certa altura, a noiva também cai, o noivo, tentando segurá-la, não consegue se apoiar e desmorona com um pedaço do vestido branco na mão. Quando Monse vai caindo, um amigo tenta ajudá-la, arranha todo seu braço mas, mesmo parecendo câmera lenta, a gravidade está lá: eles abraçam juntos o chão. Importante registrar que toda a preocupação da Monse bêbada é a peruca, emprestada da irmã, e o xale, emprestado da mãe de uma amiga. A noiva, ao saber que a suíte do hotel custou 300 dólares: “trecientos? estás loco ! qué hotel, vamos a tomar, 300 dólares de caña !” Edith, bêbada, vai para o banheiro e simplesmente desaparece da festa. Às 3h Monse volta para casa arrastada, ajudada por dois amigos. Na mão de um, a peruca, na do outro, o xale, ela no meio. Trêbada. Entra no banheiro, tira parte da roupa, entra em seu quarto – onde eu estou dormindo – acende a luz, remexe à procura de uma blusa, apaga a luz e some. Durmo imaginando que ela tinha ido para o quarto da irmã. Que nada, dormiu no banheiro! Às 5h, sem nenhum aviso, ela entra no quarto, levanta a coberta da pequena cama de solteiro onde eu estou e deita, quase em cima de mim. Rapidamente me afasto, colando na parede. “Monse, vás a dormir conmigo?” Ela não responde porque já está dormindo. De brincos e maquiagem borrada. Então, começa a roncar. Como eu poderia dormir com uma mulher na minha cama? E uma mulher que ronca ! É quando ouço um novo barulho, como o ronronear de um gato, um pombo. Várias vezes seguidas, depois pára. E Monse roncando. Que sinfonia ! Outra vez o estranho barulho, que se repete seguidamente. Sento-me na cama, procuro em volta, nada. Monse ronca. Na terceira vez, descubro através das cobertas uma luzinha verde que pisca... é o celular que está no vibrador, em sua cintura. Às 7h finalmente desisto de dormir e me levanto para sair.
Mais tarde, as explicações. As ligações para o celular da Monse ? Era Edith. Onde estava, por que sumiu ? Caiu bêbada no banheiro da festa e lá ficou. Quando acordou não tinha mais ninguém. Ligou para os celulares de todos os amigos – 78 vezes ! Afinal, sem ter como sair de lá, já de manhã, a elegante moça, meio desgrenhada, mas de vestido fino, bolsa, saltos, jóias, pôs-se a jogar “truco” com o vigia, de quem conseguiu extrair, entre blefes e apostas, aproximadamente 2 dólares. Com a renda pegou um táxi e foi para casa...
Eu não fui a essa festa. Mas ela foi inesquecível.
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