segunda-feira, 11 de maio de 2009

queda

Cheia de decisão, tomou um banho caprichado, escolheu um de seus melhores vestidos, arrumou-se toda e lá foi ela, toda animada, rumo ao centro da cidade. Perto da Candelária desceu do ônibus. Viu que o sinal para os pedestres já piscava, mas tinha pressa, acreditava que aquele era o grande dia, afinal, chegara o grande momento. Tudo ia mudar, sim, daquele dia em diante. Resolveu correr. Não deu três passos e caiu estatelada em plena avenida Presidente Vargas. Um tombo pra ninguém botar defeito: mergulhou de cara no asfalto. Uma queda em público, em alta velocidade, sem disfarce possível. Deitada no meio da rua, pensava na bolsa, na saia, nas sandálias, na vergonha.
Então o sinal abriu, os motores bufaram acelerados.
Algumas pessoas se aproximaram, entre penalizadas e curiosas: “Que loucura, querer atravessar assim”, “Ai, coitada, está sangrando”, “Por aqui, senhora, apoie aqui”, “Rápido, senhora, levante-se, os carros !”.
Machucou o rosto, as mãos, arranhou os braços e as pernas, abriu uma ferida em cada joelho. Ficou imunda, horrível. Mas o que mais a feriu, o que mais fundo lhe doeu no coração, foi ser chamada de “senhora”.
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