quarta-feira, 31 de março de 2010

do pó ao pó

Procuro um nome para minha empresa. Remexo em livros, reviro camadas de minha arqueologia, lá está: Irazú. Árida superfície lunar de enorme cratera, vegetação rarefeita, desconhecida, silêncio absoluto. Vejo a foto: ilusão de paz. Um sentido oculto vibra, assustador, imponente, ameaçador. É lá da Costa Rica que vim; de vulcões e terremotos, sísmica, sismada nasci.
Das cinzas da minha infância, o que longe me lembro: quando tinha uns 4 ou 5 anos, o Irazú lançava montanhas de poeira sobre San José. Os garis varriam diariamente a cidade, acumulando miniaturas do vulcão nas esquinas. Os telhados das casas, como tudo o mais, cheios de cinzas, e no fim do dia, as pessoas voltavam para casa com o rosto e as roupas totalmente cinzentas.
Depois, voltei só uma vez, adulta. Visitei a montanha, o vulcão quieto, conversei com a cratera.
Frente ao perigo, é como se ouvisse o som surdo dos tambores - atenção - e a voz ancestral que convive e aceita a violenta erupção: “Podemos prever, podemos avisar. Nunca poderemos evitar”.
Por isso, agora que o caos se aproxima, procuro em mim força e suavidade, procuro em mim a milenar sabedoria de quem ouviu os estrondos, de quem conhece os tremores, de quem é feito de fogo, de quem viveu sob as cinzas.
Quando eu morrer, quero apenas voltar às cinzas. Se possível, me devolvam, me lancem dentro da cratera do Irazú.

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