quinta-feira, 3 de abril de 2008

maria do carmo

Separada há algum tempo, queria casar de novo. Vestia-se de vermelho e saía para a caçada. Quando via um “alvo” interessante, dava um jeito de se colocar na mira. Fatalmente ele a abordava, a voz melosa:
- Por que tanta pressa ?
Sorrindo, ela brincava:
- Ãhn...estou levando uns doces prá casa da vovozinha, lá do outro lado da floresta...
Depois de um passeio pela mata, geralmente ela se desencantava e partia prá outra. Ou se iludia, achando que, desta vez... logo se desiludia, dava um tempo, e partia prá outra.
Nunca mais soube dela. Maria do Carmo.
De repente veio a notícia, estourou como uma bomba: a menina que teria inspirado a história do Chapeuzinho Vermelho estaria viva, morando nas montanhas do Alasca. Um alvoroço, uma disputa entre as emissoras do mundo todo, repórteres, historiadores, antropólogos, tradutores.
Depois de uma longa escalada, a reduzida equipe chega às altas escarpas nevadas, onde é recebida na gruta da famosa menina, agora uma senhora dona de casa. Dona de gruta.
Batem palmas na porta. Atende um homem cabeludo, barbado.
- Chapeuzinho Vermelho ?
Ele ri, lembrando que algum dia a esposa teve, mesmo, esse apelido.
- O senhor é o marido ?
- Pois é, nem sei como é que isso aconteceu. Mas ela já volta, foi buscar lenha. Entrem, podem entrar, ela vai adorar conversar com vocês. Ah, olha ela aí !
Vem a mulher carregando um monte de galhos secos. Surpresa, sorri, cumprimenta todos e no mesmo instante ouve-se um choro de criança vindo do fundo. O marido pede licença:
- Ãhn, está na hora da mamadeira... 6 meses, a nossa filhinha. Meu bem, eles querem falar com você.
E vai atender a criança. A equipe de jornalistas espremidíssima na caverna de teto baixo, em silêncio absoluto, visivelmente constrangida, tenta se acomodar. O chefe cria coragem e pergunta com suavidade calculada:
- Senhora, sabemos que já faz muito tempo, mas existe uma expectativa...é, é uma curiosidade dos telespectadores... o que é que aconteceu com o lobo ?
- O lobo ? Quem ? Ah, o Lobo, Eduardo Lobo, meu marido. Dudu ! Eles querem falar é com você !
Lá de dentro:
- Já vou !
Cutucado pelos colegas, ainda mais envergonhado, o chefe volta à carga:
- Mas e aquele chapeuzinho ? O famoso chapeuzinho vermelho ? Para registro das nossas câmeras...
- Ih, lavou tanto que encolheu. Virou pegador de panela. Não é nem mais vermelho, já tá é meio marrom...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nenhum comentário: