terça-feira, 1 de abril de 2008

sabedoria

Como quem acaricia a cabeça da avó
Da minha janela privilegiada
Toco as folhas mais altas
De uma senhora mangueira.
Amigas há pouco tempo
Comadres recentes
Acompanhei duas gerações
Desde que somos vizinhas
Dois verões.
Depois das flores
Adoro as manguinhas-neném
Minha janela vira creche de azeitonas
Que posso pegar com a mão.
Adolescentes
Mais evasivas, distantes
Adultas
O peso aproxima do chão
Mangas urbanas
Suculentas
Saciam vizinhos e meninos de rua.
Hoje acordei observando
Nem flores nem frutos
Silêncio
Tronco e cabeleira de folhas.
Feliz
Ela relembra mangas roubadas no pé
Vida tão desejada
Serena
Cicatriza mangas no chão apodrecidas
Vida perdida.
Inquestionável natureza.
Inarredável na sua certeza
Poderosa
Guarda forças
Aguarda o verão.
Ah, como eu queria ser mangueira !


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nenhum comentário: