segunda-feira, 7 de abril de 2008

é tudo verdade

Essa aconteceu mesmo.
Há uns 10 anos atrás, já bem tarde, eu voltava de carro e resolvi abastecer no antigo posto Mengão, na Lagoa. Perto do sinal fui reduzindo prá evitar assalto e então ouço uma freada violenta de um carro na pista do outro lado. Logo vejo um homem correndo, perseguido por outros dois ou três. Pensei logo: olha o ladrão aí ! Eis que o tal ladrão atravessa pelo meio dos carros, dá de encontro com um automóvel que vinha mais rápido e simplesmente voa uns 4 metros acima do solo, caindo em pleno asfalto, no meio da rua. Está morto, pensei. É a primeira vez que vejo alguém morrer assim, na minha frente. Nesse instante as pessoas que o perseguiam entraram num carro perto do Estádio de Remo e arrancaram cantando pneus, seguindo em direção ao Rebouças.
Tentando entender o que acontecia, volto minha atenção para o morto e o carro que o tinha atropelado. Então o pseudo-morto se levanta e entra correndo no carro, no banco do carona, enquanto pela outra porta sai a motorista gritando e pedindo ajuda. Bem, eram umas onze e meia da noite, uma mulher sozinha estava sendo assaltada... podia ser comigo... nem sei bem o que ía fazer, mas fui solidária: dei uma ré, colocando-me atrás do carro dela. Pelo menos seríamos duas a gritar ! Nesse momento, mais que depressa, o pseudo-morto-ladrão saiu do carro à frente, abriu a porta do meu carona e entrou. Pânico !!! Eu já estava quase gritando quando vi que ele segurava um dos braços com a outra mão.
- Quebrei o braço, pelo amor de deus, me ajuda, eles tentaram me seqüestrar, me leva pro hospital.
Tudo rápido demais, eu tentando processar a transformação do réu em vítima, e então a atropeladora abre a porta do lado dele e começa a puxá-lo prá fora, gritando completamente ensandecida:
- Fui eu que atropelei, eu que tenho que levar pro hospital !
O raciocínio dela foi rápido. O meu, nem tanto, e era perplexa que eu via o ex-pseudo-morto-ladrão, agora quase-seqüestrado, dentro do meu carro, protegendo o braço quebrado e resistindo bravamente ao ataque da mulher que o queria de volta. Sei lá porquê, talvez pelo meu silêncio embasbacado em contraste com a gritaria dela, só sei que em poucos segundos ele pareceu confiar mais no “kinder Ôvo”. Bem, certamente o meu Ford Ka não teria, mesmo, zunido o cara tão alto... provavelmente, no impacto, meu adorado carrinho teria sido amassado como lata de cerveja... ui ! O fato é que o cabo de guerra entre o meu indesejado co-piloto e a pseudo-frágil atropeladora, cada vez mais desvairada, durou ainda alguns segundos, tempo que levei prá retomar a lucidez e assumir a coordenação do “bonde”: ele vai aqui, ela que fosse nos seguindo.
- Mas chegando lá eu é que tenho....
A louca gritava entrando no carro.
- Tá, no hospital você faz com ele o que quiser !
Ela achava que eu iria raptar a sua vítima ? de braço quebrado ? prá quê ?
Bem, ainda nervosa, com um olho no volante e outro ligado nos movimentos do estranho à minha direita, ouço a história: que tentaram seqüestrá-lo, o colocaram no porta-malas do carro, mas ao parar em um sinal, ele conseguiu forçar o capô e fugiu, e foi aí que... Se eu sabia onde ficava a Mitsubishi...
- Ali na Bartolomeu Mitre ? Sei.
Disse que era dono... Dono ?! Voltei a entrar em pânico. Meu deus, e se os seqüestradores voltaram e estão preparando um novo ataque e eu aqui no meio e se...
Chegamos ao Miguel Couto, graças a deus. E os berros da louca ainda no volante:
- Fui eu que atropelei !
Então ele pega o meu braço e me olha nos olhos. Achei que ía me beijar, me agradecer... Eu quase disse:
- Olha, não leva a mal, prefiro o meu "kinder Ôvo"...
Nada. Ele diz:
- Eu quero te pedir um grande favor.
Gelei. Não deu tempo nem de pensar.
- Vai até a revendedora e dá o seguinte recado prá D. Ângela...
(ou seria D. Sônia ? Isso o tempo levou ! )
- Mas e se ela não estiver mais lá ?
Eu torcendo prá gorar o favor, esquece, já é tarde !
- Aí você pede ao vigia prá dar o recado prá ela.
Ai ! E se os seqüestradores me pegarem e quiserem...
- Diz que o Davi está bem. Só isso. Não fala que eu estou aqui. Só diz que eu tô bem.
- Ah, você é o Davi.
- Faz esse favor ?
Apertava meu braço. Que jeito ? Ele desce do “kinder”, eu chego a acompanhar um pouco até ele entrar na emergência – e já chega a outra, que tinha ido estacionar o carro sei lá onde... Suspiro e me encho de coragem, que ainda tenho tarefa a cumprir nessa longa noite. Rondei cuidadosamente a loja, parei o carro um pouco mais longe – existem poucos como o "kinder", vai que os caras reconhecem ? Apavorada, espreitando a 360 graus, eu me aproximo. Lá está o tal vigia. A secretária já tinha ido, mesmo – meia noite e meia, não é mais hora ! Mas e o vigia ? E se ele não fosse, mesmo, o vigia, mas um dos seqüestradores, e se quisesse me usar para descobrir o paradeiro do Davi, e se... Pânico !!!
Bem, seja quem for esse vigia, o recado está dado. Ele bem ficou perguntando como é que eu sabia, onde estava o Davi, qual era o meu nome... Vai ver ficou pensando que eu era seqüestradora...
Nessa época eu dava aula, fui comentar com os alunos: não acreditaram, acharam que eu estava inventando ! Até riram, pode ? Pararam quando um deles confirmou. Parece que os pais eram amigos do tal Davi.

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2 comentários:

Anônimo disse...

que lindo! quanta inspiração e romatismo.
Bjs
mariangela

Anônimo disse...

oi Verônica!
Menina q estória!
Realmente inacreditavel, q loucura!
Dificil mesmo manter a cabeça fria numa situação dessas. Mas vc se saiu bem e missão cumprida! rs
Bacana o seu blog.
Eu escrevo uns textos,mas pensando em letra de musica, q ja até registrei...se nao fosse a minha preguiça eu faria um blog também,mas por enquanto deixa quieto. rs
Bom vim só pra te deixar um bjo.
E ainda te ligo qualquer dia desses pra gente combinar aquele café.
Bjo grande!
Fábio.