quinta-feira, 24 de abril de 2008

separação litigiosa

Desço do ônibus diretamente no meio de uma briga acirrada entre um casal de mendigos:
- Tó, toma o teu anel.
Ela tira do dedo e o joga na cara dele. Sai correndo no meio da rua, entre os carros. Ao meu lado ele se abaixa, pega o anel, pensa um pouco. Logo depois, vai atrás dela, atravessa a rua como louco, batendo no capô dos carros, a pega pelos cabelos.
- Tu vai enfiar a cara na lama !
Mas ela desvia e se livra dele. Pega algumas roupas no chão, debaixo da marquise do banco, faz uma espécie de amarrado, que levanta acima da cabeça num safanão. Enquanto ele olha apalermado, ela vai embora sacudindo as roupas, gritando e rindo:
- Ó o que tu é, ó o que tu é !
Confesso que demorei até entender, mas o poder de síntese daquela mulher não deixava dúvida: o trouxa era ele.
Fez sentido. Afinal, ela perdeu um anel, mas ficou com todos os outros bens.
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