sexta-feira, 13 de março de 2009

azar

Diz um amigo que o problema da traição conjugal é a mentira que é preciso inventar. Como mentira tem perna curta... a pessoa acaba tendo que inventar outra, para cobrir as falhas da anterior, e mais uma, e outra, até que se descobre tudo. Ou até que esse trabalho todo acabe não compensando a pulada de cerca. Aí, depende da criatividade do sujeito. Ou dos atrativos do(a) amante.
Para o Claudionor isso não era questão, já que sempre tinha viagens a trabalho. Vivia bem com a Neidinha, voltava saudoso, as crianças cresciam em paz. O casamento em perfeita harmonia.
Apesar disso, não era com facilidade que seu Ezequiel, pai da Neidinha, engolia as constantes viagens do genro.
Aconteceu um dia que o sogro teve que ir a Saquarema tratar da venda de um imóvel. Resolvido rapidamente o negócio, dispôs de tempo para um passeio a beiramar. Azar. Viu ao longe, lá na areia da praia semideserta, em pleno dia de semana. Viu e reconheceu. Teve que se esconder entre as poucas barracas para descobrir a companhia de Claudionor. Sempre suspeitara da traição, imaginava o genro com uma vizinha do mesmo prédio, ou da rua, talvez alguma amiga da Neidinha ou até mesmo uma prima que ciscava por perto. Pois o sogro quase enfartou quando viu, entre cadeiras e toalhas, o modo carinhoso com que Claudionor se aconchegava com o esbelto rapaz.
Não fez nada. Só ligou pedindo à filha que viesse encontrá-lo. E a levou em silêncio para contemplar aquela paisagem.
Azar, puro azar.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Delícia: os três últimos textos são ótimos!!! Adorei o "Perdeu, playboy"!!! Bjks!!!