sexta-feira, 13 de março de 2009

cornitude

- Algum dia todos fomos, somos ou seremos traídos, é inevitável. A diferença fundamental é a pessoa vivenciar ou não o sentimento do chifre. Eis a questão.
A idéia da “cornitude” como estado de espírito é plataforma do Renato: o cara pode ser corno e sequer suspeitar de sua situação, não sofrendo, portanto, as viscerais dores da traição, ou ao contrário, pode nem estar, de fato, sendo passado prá trás, e viver diariamente o doentio ciúme ao vislumbrar persistente galharia na fronte cada vez que se olha no espelho.
Por exemplo, o caso do Cristiano, seu amigo íntimo na adolescência. Vizinhos de bairro, de jogos, de aventuras e estrepolias. No início da fase adulta, um para a faculdade, o outro, para a escola técnica, aos poucos foram se distanciando até que a família do Cristiano se mudou, Renato se casou, etc., perderam-se de vista.
Muitos anos mais tarde, ao sair do trabalho num dia de chuva, Renato oferece carona a uma moça da mesma empresa. Gabriela. Encantadora. O encontro se repete algumas vezes, ora por acaso, ora, não, e acabam engrenando namoro. Tempo depois ela revela que é casada. Sem problema, basta serem discretos. O nome do marido ? Cristiano. Muita coincidência, mas ele é assim, assim ? Fez escola técnica ? Morou em S. Cristóvão ? Bem, é ele. Sem problema, basta serem discretos, isso dá até um tempero novo, é tudo divertido e o caso dura anos. Até que um dia Gabriela é atropelada quase na porta da empresa. Enquanto a ambulância a leva ao hospital, o chefe pede que Renato leve os documentos ao marido. Não havia como recusar.
Quando Cristiano abre a porta...
Quando Cristiano abre a porta:
- Renato !
O amigo de infância mostra os documentos dela – coincidência, mesma empresa... Eles se abraçam longamente, o marido chora emocionado:
- Quanto tempo, meu deus, que falta você faz !
O amante, constrangidíssimo:
- Parece que ela só quebrou duas costelas, uns arranhões, fica boa logo.
O amigo insiste numa cerveja, aquele reencontro é um dia especial, depois de...20 ? 30 anos ? Renato tem pressa, tem que voltar pro expediente, quem sabe, um outro dia.
Depois da alta, Gabriela ainda o procurou muitas vezes.
Não, nunca mais.


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