terça-feira, 24 de março de 2009

cena final

Wander entra apressado, vestido como Hamlet, abre uma porta estreita, entra e fecha.
- Ah ! Finalmente. Acabou.
Márcio entra rápido,vestido como Horácio. Sussurra, nervoso:
- Wander ! Você tá aí, Wander ?
- Não. Me deixa em paz. Ser ou não ser, ufff !... Márcio... Não, olha, eu não sou.
- Mas você tá louco ? A gente tá em cena, Wander, é o grand final, e você é o Hamlet !
- A minha cena agora é essa, ó.
Ouve-se um som algo escatológico. Márcio se afasta da porta, aproxima-se da coxia, ouvindo:
- Meu deus ! A fala do rei tá quase no fim, não sei como é que eles... vão ter improvisar !... Wander, tá ouvindo ?
- Esta noite eles que improvisem ! Quer saber ? Tô melhor assim. Ah ! Você não sabe o que é enfrentar a morte todo dia, ter que matar, ter que morrer e ainda ver a mãe morrer, aqueles corpos todos caídos...
- Mas é teatro, Wander ! Teatrinho, cara !
- Não, eu não tenho sangue de barata, eu não posso mais...
Márcio começa a esmurrar e chutar a porta.
- Porra, cara, isso é sacanagem ! Como é que a gente ensaia dois meses, enfrenta toda a dureza que foi e hoje, porra, hoje, estréia, teatro lotado, você inventa essa de sair de cena no 5º. Ato !!!
Ouve-se som de trombetas.
Márcio chuta a porta violentamente.
- O duelo ! Wander, pelo amor de deus, por amor ao teatro, sai daí. Pelo menos prá acabar a peça !
A porta se entrabre lentamente, aparece apenas a mão de Wander com uma espada:
- Tu és Hamlet. Vai.
Márcio pega a espada, a porta se fecha. Ele se apruma e sai.
Wander coloca o figurino em cima da porta. Apenas de cueca, avança para o espelho. Respira aliviado, pensativo. Olha para a coxia da esquerda, sai para a direita.
Blackout.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nenhum comentário: