terça-feira, 25 de março de 2008

guarda-volume

No andar de cima, ao meu lado, o pai vê o filho no cercadinho do andar de baixo, espaço creche de um shopping. Avisa que vai encontrar com a mãe. O filho, uns 6 a 7 anos, começa a ficar nervoso e a tirar a fantasia de leãozinho, diz que vai sair dali, que é para o pai esperar. Começa uma pequena discussão: o pai dizendo que é prá ele ficar mais um pouco, ele, que não, o pai diz que vai buscar um papel com a mãe, e ele:
- Não foge não, pai, pera aí !
O pai diz que é preciso o papel prá sair, o garoto continua tirando a fantasia, até que fica só repetindo:
- Eu vou sair, não foge não, pai !
A discussão continua, um não convence o outro, e então o garoto parece meio hipnotizado, nem olha mais o pai, só olha prá frente, repetindo:
- Não foge não, pai !
Viro rapidamente para o lado, eis que o pai também está meio abobado, para ele a situação parece nova, mas o garoto agora chora. Não, não é verdade, ele continua congelado, repetindo, sou eu que vejo e choro dentro dos seus olhos porque o cenário é diferente, o figurino nem sempre é de leãozinho, mas é sempre a mesma cena, todo dia ele nunca alcança o pai que foge. Entra uma babá tentando convencer o garoto a ficar, mas ele já está correndo escada acima semi-desesperado porque não vê o pai, que deu a volta na pilastra prá encontrar o menino. Afinal se vêem no mesmo nível, não vejo a cara do garoto mas o pai ri. Não sei se ri do desespero do filho, do engano da criança pensando que ele tinha ido embora, ou de alegria por afinal terem se encontrado.
Não acompanho mais a história, em todo caso será mesmo preciso um papel para tirar o menino dali, é como um guarda-volume, se você não entregar o cartão com o número, não devolvem a sua bolsa.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nenhum comentário: