sábado, 15 de março de 2008

zezé

...e tem aquela que de tanto medo (de quem ?) tenta se manter sempre ocupada, a agenda sempre cheia de compromissos, tarefas, obrigações, horários, ainda que compromissos sejam até encontros, almoços, jantares, chazinhos, de qualquer forma eles são a garantia (são ?) de não precisar olhar a solidão de não ter que mergulhar nem olhar o espelho nem pensar o passado o presente o futuro, não digo quanto aos compromissos mas o que foi feito, o que ela mesma fez (e faz ?) com a sua vida.
e então no Natal ela descobre que pode se ocupar ainda mais, toca a comprar presentes que é muita gente, é preciso lembrar de todos afinal são eles (quem ?) são os que a ajudam a não (se) ver. Bate pernas de dia à tarde até de noite, sempre que pode procurando comparando pechinchando este para o tio este para o sobrinho aquele para o ... como é mesmo o nome? Não interessa, o do escritório, o que falta ? Sim, sempre falta alguém tem que faltar, não saberia o que fazer se a lista fosse assim tão curta. Mas em seguida feliz descobre que não é preciso ter medo, há muito o que fazer, e toca a empacotar, embrulhar, enfeitar, identificar um por um qual é para quem. Radiante conta e vê orgulhosa que são 430 pacotes, pacotinhos, pacotões, sente-se rodeada de amigos e em nenhum momento se pergunta onde eles estão.
E ela, ela está logo ali, está aqui, e se não são lojas são processos são aulas são matérias para o jornal artigos conferências e se não presentes (nem sempre é Natal) são reformas na casa são cortinas pisos azuleijos ou roupa para lavar passar costurar comidas por fazer quadros a emoldurar louça para lavar até crianças é preciso levar para passear tudo vale desde que não se possa parar.
Mas tudo cansa nada satisfaz nunca sempre ela sente falta do outro ainda junto com todo o medo e ela sempre tenta e não sabe se é busca ou perdição procura sempre tentando não achar que o achar é que é perigoso. Apaixona-se perdidamente pelo coroa ou garotão o cara casado o que é gay (não sabia ?!) o doente ou com 5 filhos o desempregado o que mora fora até o padre (Meu Deus !) tudo vale desde que não se possa parar. Desde que não se encontre o que tanto se quer. E no meio dessa sabo - sacanagem são tantos desencontros que chega a fazer mais uma lista foram 54 amantes e em nenhum momento se pergunta onde eles estão.
Escrevo porque essa mulher passou por mim. Está aqui, está logo ali, quem é que nunca viu ?
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